Ex-ministro e ex-presidente receberam repasses da construtora Camargo Corrêa, uma das empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato
Por: Laryssa Borges, de Brasília
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NA MIRA – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: repasses feitos pela Camargo Corrêa ao seu instituto serão investigados pela Polícia Federal (Andre Penner/VEJA) |
A
Polícia Federal pretende convocar o ex-ministro da Casa Civil José
Dirceu para depor em Curitiba, onde estão concentrados a maior os
processos da Operação Lava Jato. De acordo com o delegado Igor de Paula,
que atua nas investigações sobre o escândalo do petrolão, o ex-chefe da
Casa Civil, condenado no julgamento do mensalão, deve ser ouvido para
esclarecer os pagamentos que recebeu da construtora Camargo Corrêa.
Mais: depois da confirmação de que o Instituto Lula e o LILS
Palestras Eventos e Publicidade, ambas ligadas ao ex-presidente petista,
receberam, entre 2011 e 2013, 4,53 milhões de reais da empreiteira
Camargo Corrêa, a Polícia Federal estuda abrir um inquérito específico
para investigar a legalidade dos repasses da gigante da construção, um
dos alvos da Operação Lava Jato, e o instituto criado pelo ex-presidente
depois de deixar o Palácio do Planalto.
Laudo da Polícia Federal registra que a Camargo, empreiteira cujos
dirigentes confessaram, em delação premiada, terem desembolsado 110
milhões de reais em propina para duas diretorias da Petrobras, pagou
três parcelas de 1 milhão de reais cada ao Instituto Lula entre dezembro
de 2011 e dezembro de 2013 e mais 1,527 milhão de reais para a LILS
Palestras Eventos e Publicidade entre setembro de 2011 e julho de 2013. O
Intituto Lula nega irregularidades nos repasses e diz que o dinheiro
foi doado para o "desenvolvimento de atividades institucionais".
No caso de Dirceu, constam os pagamentos de 900.000 reais da
construtora para a JD Assessoria e Consultoria por meio de dez depósitos
bancários. Dirceu teve a quebra dos sigilos bancário e fiscal decretada
pela juíza Gabriela Hardt em janeiro após o MInistério Público, aliado à
Receita Federal, terem apresentado indícios de que as consultorias
prestadas pelo ex-ministro funcionariam, na verdade, para pagamento de
propina. Dados da Receita Federal apontam que a empresa do ex-ministro
José Dirceu faturou pelo menos 29,2 milhões de reais com a prestação de
serviços de consultoria, de 2006, depois de deixar o governo Lula, a
2013, quando começou a cumprir pena pela condenação no julgamento do
mensalão.
"Provavelmente, o instituto vai ser chamado a comprovar a razão
desses pagamentos e também a empresa vai ter que dizer o porque disso
[de enviar 3 milhões de reais ao Instituto Lula]. A JD [Consultoria]
também. Acho que, sobre a oitiva do ex-ministro José Dirceu, vai chegar
um momento em que será inevitável. A gente não sabe ainda quando, mas
vai ser provavelmente no momento mais adequado do ponto de vista das
provas, quando tudo estiver bem reunido para evitar que ele venha e
depois tenha que ser ouvido de novo, mas eu encontro como inevitável",
disse o delegado Igor de Paula. "O Instituto Lula e esses repasses são
trazidos para os autos agora pela primeira vez. Possivelmente [pode ser
aberto um inquérito especial para o Instituto]", completou ele. "O que
vai se rfeito a partir do laudo é ver se há realmente indícios de
irregularidade ali. Havendo indícios, com certeza é natural que se
instaure inquérito para apurar", afirmou ele.
Na avaliação do delegado que atua na Operação Lava Jato, o presidente
e o vice-presidente da Camargo Corrêa terão de ser ouvidos novamente
para esclarecer os 183,79 milhões de reais repassados pela empreiteira
em doações "de cunho político", entre 2008 e 2013. Foram detectados
ainda o envio de 67 milhões de reais para o lobista Julio Camargo,
empresário que também fez acordo de delação premiada e confirmou que o
lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano e operador do
PMDB no escândalo da Petrobras, recebeu 40 milhões de dólares em propina
em uma transação envolvendo a compra de navios-sonda da Samsung Heavy
Industries. "Temos individualmente cada uma das operações [de
pagamento]. Vai ser um trabalho extenso, mas eles devem esclarecer o
motivo daquelas transações, qual a origem daquelas doações. Os dados
reforçam principalmente a tese que vem se confirmando de que as doações
legais não são doações, mas repasses fruto de contratos fechados com o
pagamento de propina. Vamos tentar detalhar a natureza desses repasses
individualizados, como os do Instituto Lula, as empresas de consultoria e
tentar esclarecer o que está em cada um daqueles repasses", explicou o
delegado.
Dalton Avancini e Eduardo Leite já aceitaram fazer acordos de delação
premiada e confirmaram que foram pagos pela empreiteira, ao longo de
seis anos, 110 milhões de reais em propinas na Petrobras para os
ex-diretores de Serviços, Renato Duque, e de Abastecimento, Paulo
Roberto Costa. Em sua delação premiada, Eduardo Leite afirmou que "entre
2007 e 2012 a construtora pagou 110 milhões de reais em propinas, sendo
63 milhões de reais para a Diretoria de Serviços e 47 milhões de reais
para a Diretoria de Abastecimento".

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